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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Codesp planeja desativar a Usina Hidrelétrica de Itatinga

Desativar a Usina Hidrelétrica de Itatinga, que fica em Bertioga e fornece energia elétrica ao Porto de Santos, está entre os planos do novo diretor-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Luiz Fernando Garcia. A ideia do executivo é que o cais santista seja abastecido por uma das concessionárias responsáveis pelo fornecimento de eletricidade na região, a CPFL. Já a instalação centenária deve ser transformada em um museu.

 Atualmente, a usina responde por 70% da energia consumida no Porto. Em momentos de pico, chega a 95%. Na Margem Direita (Santos), o restante é fornecido pela CPFL, por meio de um sistema de compensação. As redes das duas empresas estão interligadas – quando um sistema cai, o outro entra em operação automaticamente.

Na Margem Esquerda (Guarujá e Área Continental de Santos), as redes são segregadas e os terminais recebem energia de três fontes: Itatinga e as concessionárias Elektro e CPFL.
A energia gerada por Itatinga é transmitida por circuitos trifásicos desde Bertioga até o Porto de Santos, por uma rede aérea que se prolonga por 30 quilômetros. Ao chegar na região do cais, esses cabos, agora subterrâneos, distribuem a eletricidade para outras 70 subestações ao longo do Porto. Essa rede, de 50 quilômetros de extensão, atende tanto a Docas como arrendatários e usuários do complexo marítimo.

A Autoridade Portuária também é responsável por garantir energia para abastecer suas instalações administrativas e os sistemas de iluminação de toda a área operacional e de ruas e avenidas do complexo. 


Para Garcia, toda essa estrutura para manter a operação de Itatinga custa caro. Por conta disso, o executivo acredita que a melhor maneira de garantir o fornecimento de energia elétrica ao Porto é contratando o serviço de uma concessionária especializada.

 “De acordo com a CPFL, eles estão preparados para fornecer energia para o Porto. A questão é a partir da porta para dentro. Ajustes precisam ser feitos com os terminais – a questão dos cabeamentos que a área técnica passou que cabe a nós. Vamos tentar que eles façam isso, mas precisa de um estudo. A ideia é que a gente não despenda R$ 1,00 de recurso ou o mínimo possível para que a CPFL assuma essa função”, afirmou Garcia. 
Resistência

O presidente da Codesp reconhece o valor histórico da instalação centenária, mas não vê viabilidade em manter a situação como está. 


Para Garcia, não será possível concluir a desativação de Itatinga e firmar o contrato de fornecimento de energia com uma concessionária em seu mandato, que deve ir até o final do ano. Mas sua ideia é dar o start. “Para o trabalhador do Porto, ela (a usina) é emblemática e, de fato, histórica. As pessoas passaram por aquilo. Mas hoje não dá mais. A ideia é que a gente inicie essa transição porque a CPFL disse que não havia uma diretriz e nem uma correspondência oficial sobre o assunto”. 

“Na minha visão de mercado, por mais que a gente pague um pouco mais caro, mas se a gente tem um problema com energia, aciona a CPFL. Não é o caso de o porto mobilizar um pessoal, a Guarda Portuária, porque roubam cabos de energia. Por isso, a gente entende que é preciso segregar”, disse Luiz Fernando Garcia.

 “O custo que a gente tem para manutenção é muito caro e envolve um processo público, uma licitação. São R$ 27 milhões para que a gente mantenha uma manutenção e a operação regular por 12 meses. É custoso o processo licitatório público, tanto que até hoje não saiu”, afirmou. O executivo se refere às diversas tentativas de contratação do serviço de manutenção da usina, que esbarraram em problemas como a burocracia do serviço público. Diante disso, Garcia determinou que a área técnica levante informações que serão repassadas à CPFL, para elaborar um projeto para o fornecimento de eletricidade. 

Historia da Usina de Itatinga

O Porto de Santos é um dos únicos portos no mundo a possuir geração própria de energia elétrica por meio da Usina Hidrelétrica de Itatinga, localizada a cerca de 30 km do Porto, no municí­pio de Bertioga.



Uma das maiores entre as primeiras do gênero, no Brasil, a Hidrelétrica de Itatinga foi, durante muito tempo, a de maior altura de queda d’água, com sua energia destinada não só à eletrificação das instalações do porto – até então movimentadas por máquina a vapor – como também a iluminação geral do cais, armazéns e escritórios, substituindo uma pequena usina termoelétrica.
O sistema elétrico do Porto de Santos operado pela Codesp garante o fornecimento de energia para consumo próprio da empresa e suprimento aos diversos arrendatários instalados na área do porto.
O suprimento de energia é, prioritariamente, proveniente da Usina hidrelétrica de Itatinga, com capacidade de 15 MW, complementado em alta tensão pela concessionária local Companhia Piratininga de Força e Luz (CPFL), através de um circuito com capacidade 8,6 MW ligado em paralelo e de mais dois pontos de conexão com capacidades de 1,6 MW e 0,1 MW respectivamente.
A energia fornecida pela Usina de Itatinga corresponde a, aproximadamente, 80% de toda energia distribuí­da pela Codesp através de circuitos próprios.
A história da Usina Hidrelétrica de Itatinga começa em 1903 com a aquisição pela Companhia Docas de Santos, então concessionária dos serviços portuários da Fazenda Pelaes, no sopé da Serra do Mar, Municí­pio de Bertioga. Projetada pelo engenheiro Guilherme Benjamim Weinschenck, sua construção foi iniciada em 1904, mas logo em 1905 a obra ficou ameaçada e teve de ser interrompida por causa da alta incidência de malária entre os trabalhadores. Foi preciso buscar no Rio de Janeiro um jovem médico sanitarista, discí­pulo de Oswaldo Cruz, para analisar o que seria possí­vel fazer a fim de reverter aquela situação.
O jovem médico, Carlos Chagas, já vinha estudando a malária na cidade do Rio de Janeiro e perdeu a possibilidade de experimentar sua profilaxia nessa área delimitada. A partir de observações sistemáticas do local e do desenvolvimento de seu método, conseguiu erradicar, em menos de três meses, o mosquito transmissor da malária na área da hidrelétrica.
A inauguração da usina ocorreu em 10 de outubro de 1910.
Em 21 de fevereiro de 1911 foi concluí­da a substituição das máquinas a vapor das oficinas mecânicas, carpintaria, fundição e outros setores do Porto por motores elétricos e as instalações portuárias passaram a ser integralmente movimentadas pela energia de Itatinga.
A nova matriz energética permitiu ao Porto ampliar sua produtividade não somente por viabilizar a entrada em operação de equipamentos movidos a eletricidade mas, também, por permitir que as operações se prolongassem nos perí­odos noturnos, a partir da instalação de iluminação elétrica.
A capacidade geradora da usina, maior que a demanda das instalações do Porto, permitiu que, desde abril de 1911 as sobras fossem cedidas à concessionária dos serviços de eletricidade para atender aos municí­pios da Baixada Santista. Itatinga teve uma participação relevante no desenvolvimento sócio-econômico-cultural da região, uma vez que, até 1927 forneceu toda a eletricidade consumida pelos municí­pios de Santos, São Vicente e localidades vizinhas. Sua energia foi utilizada pela “Light” na construção da Usina Henry Borden, em Cubatão, e, em 1925, durante a grande crise de energia em São Paulo, Itatinga forneceu 5.000 kw diários à capital.
A usina
A Usina opera com abastecimento a “fio d’água”, com uma captação direta do rio Itatinga situado a 765m de altura na Serra do Mar, contando com um complexo composto por represa, câmara d’água, cinco tubulações de descida da serra, turbinas e geradores, além de 30 quilômetros de linhas de transmissão em 160 torres, duas grandes torres para transposição do canal do estuário, uma central elétrica e 60 subestações ao longo da margem de Santos.
Vila de Itatinga

Existe uma infraestrutura básica para residência de empregados da Codesp ali sediados, tais como: 61 casas (22 em alvenaria e 39 em madeira), centro de treinamento, padaria com minimercado (arrendada), posto médico, capela, clube esportivo, auditório, centro comunitário e dois abrigos de passageiros, vias de acesso e terrenos adjacentes.

Acesso
O acesso às instalações da usina ocorre a partir da travessia por barco do rio Itapanhaú, realizada em 3 minutos, marcando o iní­cio do percurso até a vila de Itatinga. A seguir, ocorre o embarque em um pitoresco bondinho onde se pode desfrutar, por mais de 7 km, a exuberante paisagem do caminho, constituí­da por córregos cristalinos, planí­cie e montanhas cobertas pelas matas de encosta, além de vegetação da restinga e manguezais. Margeando as trilhas, se pode observar o mangue e sua vegetação caracterí­stica, além de uma construção do século XVIII.

Em 2016, foram concluí­das as obras de modernização da usina que proporcionam mais qualidade e confiabilidade ao sistema. A usina opera, agora, de forma automatizada, garantindo maior integridade às instalações operacionais. Com essa melhoria, foram reduzidas as perdas no sistema. Para tanto, foi implantada a informatização para controle e monitoramento das operações, além da troca de disjuntores e outras intervenções.
Concessão
Foi regularizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a cessão da Usina de Itatinga e dos ativos de distribuição de energia elétrica para a Codesp, possibilitando a continuidade da prestação dos serviços.
Convênio CPFL – Nova subestação
Para ampliar a garantia de pleno abastecimento, a Codesp e a CPFL definiram a construção de uma subestação de distribuição de energia elétrica, com capacidade para atendimento às futuras necessidades do Porto.

A concessionária local já instalou cabos de transmissão de energia para o novo sistema em toda a região da margem de Santos, desde a subestação Vila Nova, próxima ao Mercado Municipal de Santos, até a subestação Estuário, na Ponta da Praia. A energia da nova subestação na área do Porto poderá ser distribuí­da pela Codesp.
Fonte: Jornal  A Tribuna / Porto de Santos 
Fotos: Rogério Soares / Vini Roger / Porto de Santos

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