O navio oceanográfico 'Professor Wladimir Besnard' deve içar âncora ainda neste ano e deixar o Porto de Santos, onde está atracado desde 2008. Trazida à região após pegar fogo durante viagem pela Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a embarcação está abandonada e em deterioração.
Se os novos planos correrem como o esperado, ele deve ser revitalizado e transformado em museu.
Um entendimento sobre o futuro do navio foi encaminhado em reunião na sede do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat) entre a ONG Instituto do Mar (Imar) e a Prefeitura de Ilhabela.
Desde 2016, o município do Litoral Norte é responsável pela embarcação, doada pela Universidade de São Paulo (USP).
A ideia era afundá-la e torná-la atração para mergulhadores, mas o projeto não andou e, diante de um pedido de tombamento feito pelo Imar ao Condephaat, qualquer alternativa que pudesse ser aplicada acabou sendo freada. “Pela conversa que tivemos no Condephaat, é muito provável que a embarcação seja tombada. Por isso, perde-se o propósito da Prefeitura de Ilhabela, que pretendia fazer um naufrágio controlado. Agora, estamos encaminhando a papelada para a doação ao Imar. Os termos ainda estão sendo discutidos”, diz o secretário municipal de Desenvolvimento e Turismo, Ricardo Fazzini.
Segundo ele, a administração municipal entende a importância do navio para a história da navegação e pesquisa marinha, mas ressalta que a cidade teve um prejuízo enorme com essa herança do governo anterior. Fazzini informa que um novo encontro com a ONG deve ser marcado para formalizar o acordo.
Museu
O interesse do Imar sempre foi impedir que o navio fosse afundado. Ele foi adquirido pelo Estado de São Paulo, em 1962, para realizar pesquisas marinhas. A intenção do instituto é permitir que todos possam conhecer a embarcação e não alguns poucos que realizam mergulho.
“Quero o abacaxi para mim. Vamos restaurar. Tenho patrocinadores e estaleiros de graça. Cheguei a ser cumprimentado [pelo secretário] e recebi os parabéns pela doação do navio, mas ainda não tem nada assinado”, diz Fernando Liberalli Simoni, presidente do Imar.
A intenção dele é que a embarcação seja um museu itinerante pelas cidades do litoral paulista. “O projeto é bastante interessante. As viagens do navio e suas histórias são muito ricas. Pretendemos abrir visitação às escolas, às crianças para fomentar a mentalidade náutica”.
Simoni explica que a curadoria do museu ficaria a cargo de profissional da USP, bem como a monitoria. Hoje, a universidade conta com grande parte dos equipamentos retirados do navio quando foram encerradas suas atividades. Parte dessas memórias voltará para o Professor Besnard.
História e cultura
A primeira viagem do navio foi realizada em 1967, quando saiu da Noruega, seu país de origem. Ele passou por uma missão pela costa da África, onde coletou amostras de água, de plâncton, entre outras atividades e chegou a Santos.
De lá pra cá, foram 41 anos de atividades, 150 viagens e suas histórias relatadas em 68 diários de bordo. E mais de 50 mil amostras coletadas.
Toda atividade realizada pelo navio tem grande contribuição científica e cultural, o que tem sido estudado pelo Condephaat, que sustenta a importância dos feitos e o equipamento como um patrimônio a ser tombado.
Preocupação
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) se preocupa com o óleo e demais resíduos ainda presentes na embarcação.
Com o navio ainda sob posse da Prefeitura de Ilhabela, o serviço de remoção dos produtos poluentes é de responsabilidade do município, assim como um vazamento. Enquanto a situação é analisada pelo Condephaat, ninguém pode mexer na embarcação, a não ser por eventual risco, o que é o caso.
Embarcação parada só gera despesas
De 2008 até o momento, muitos foram os gastos com manutenção, taxas de atracação, multas e juros da embarcação.
O secretário de Desenvolvimento e Turismo de Ilhabela, Ricardo Fazzini, diz que foi gasto mais de R$ 1 milhão para regularizar tal situação e, após resolver a questão, uma auditoria interna deve ser aberta para analisar todo o processo que culminou na posse do bem. Fazzini deixa claro à comunidade de mergulhadores que, com o pedido de tombamento, os gastos e a maior dificuldade para um eventual naufrágio controlado, a Prefeitura se vê sem saída a não ser abrir mão do navio.
Dívida
A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) diz que Ilhabela ainda tem uma dívida de R$ 457 mil. O valor, ainda sem juros e correção, se refere às taxas de atracação e permanência da embarcação no Porto de Santos.
O secretário de Desenvolvimento e Turismo do município disse desconhecer o passivo, mas, mesmo assim, informou que, ao doar o navio para o Imar, a ONG passa a ser responsável pelas despesas.
Fonte: Jornal Atribuna
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